quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Futuro Clandestino
Contemplo minha cova, que fede a carne carcomida,
o cadáver purulento, aos poucos se extasia,
em oblar-se a sádicas rapinas como excelente comida,
mas apenas vermes escrotos vão torná-la vazia.
Jaz a criatura enegrecida no silêncio imperturbável,
a morada clandestina aglutina a decomposição.
A companhia do epitáfio, alvitra o incomensurável,
congregando dos ínferos a fúnebre emoção.
Ao mirar a essência desprovida, sou tomado pelo pavor,
da matéria fria, inerte a putrefar aos bolores funéreos.
Grito à brisa, que afaga a grama que embeleza este terror:
– Serei eu esta carniça, minguando um vazio etéreo.
Minha existência preludia a corruptividade,
e penso apenas no legado do vegetal lenhoso,
que sombreará e se nutrirá de meus restos em atividade,
com as frutas saboreadas por um outro prelúdio putreftoso.
Escrito em 06/05/2003
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