quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Satanizar

 



Satanizemos as coisas  

Satanizemos as crenças. 

Satanizemos os milagres. 

Satanizemos a burca, o véu, a grinalda.


Satanizemos deus, deuses, orgias plurais.

Satanizemos os incautos, cultos, impuros.

Satanizemos as putas, as santas, o cabelo na prexeca.

Satanizemos o milagre que nunca pedi, herdei e nunca quis.


Satanizemos os odores, a hipocrisia e as verdades.

Satanizemos a panacéa, a ignomínia e as virtudes.

Satanizemos os lares, os bordéis e as igrejas.

Satanizemos o odres, odores, bolores.


E a estupidez de quem olha para o santo e reza incólume.

E a estupidez dos que se armam do amor e da violência inaudita.

E a estupidez de lutar contra as hordas fascistas liquidificadas na oração do pastor, do padre, da freira, da cria broxável.

Satanizemos, satanizemos, pois o oremos não deu conta, não dá conta, não satisfez.


Satanizemos a monogamia, poligamia, ... a punheta salva.

Satanizemos a ferradura, resistência, frequência, sexo pundonoroso.

Satanizemos as coisas, os raros, fracos, fortes.

Satanizemos o amor. A busca da oração, o acalanto, o ser.



Satanizemos as virtudes, as cores, as lágrimas.

Que o desatino da minha oração, sejam mais que palavras inauditas, mortas, vilipendiadas.

Que minha oração enalteça a dor do odor maldito, mau dito.

Satanizar é preciso. Renunciar é preciso. Satanizar a esperança, e tornar santo a estrela da manhã, pois amanhã o encanto fenecerá, e rugirá o pranto no alvorço da nudez impura.

Satanizemos a existência.

Que venha a perversão...